2 de fev. de 2009

Vegetarianismo: golpe de marketing ou convicção pessoal?

Conversar sobre vegetarianismo é como conversar sobre futebol? Não. É como conversar sobre religião? Talvez.

Me tornei vegetariana há mais de 2 anos. Minha motivação? Não sei bem, mas sempre me senti desconfortável com o tema, apesar de ter uma fama justificada de comedora descontrolada de carne. O almoço de domingo, com a família, sempre teve dois frangos: um para mim e outro para o resto das pessoas. No rodízio, meus amigos mais comedores sempre saiam assustados. E não é exagero.

Vez ou outra pesquisava sobre vegetarianismo na internet. Geralmente o que ficava das leituras era: bacana, faz muito sentido, mas isso é pra quem não gosta de comida.

Belo dia tive aquele estalo, literalmente. Não lembro com precisão, mas foi um texto específico que me deixou de cabeça virada. De repente eu senti que, se eu quisesse ser a pessoa que eu gostaria de ser, eu teria que parar de comer carne. Da noite para o dia aquilo se tornou incompatível com tudo o que eu acreditava. E eu nunca consegui viver em descompasso com minha consciência. Era o fim da picanha argentina em minha vida.

Ser vegetariano - um desafio social

A oposição de praticamente todos que conviviam comigo foi algo duro, principalmente pelas inverdades e ignorâncias que ouvia - e ainda ouço. Tenho convicção de que a motivação para essa agressividade por parte dos "carnívoros", principalmente quando deixei de ser uma, reside em um medo de encarar alguns fatos: verdades inconvenientes, parafraseando Al Gore. O disfarce é a preocupação com a minha saúde, em contraste com a despreocupação com a sua própria.

Cypher, saboreando seu filé quando volta à Matrix: "Ignorance is a bliss"

Algumas questões definitivas.

Do ponto de vista do direito à vida, não acho o homem superior ao animal. Se minha vida não depende da vida do animal, não devo tirá-la por uma questão de hábito ou paladar. A forma como os animais são tratados pela indústria da carne só confirma a perversão em que estamos imersos.

A soja não desmata e destrói tanto quanto a pecuária. Ainda que isso fosse verdade, a produção de grãos alimentaria muito mais pessoas se fosse destinada a elas e não à criação de animais. Isso é fato. Carne é artigo de luxo. A soja é barata e poderia matar a fome das populações mais pobres. A Revista Época publicou o seguinte: "A produção de grãos de uma fazenda com 100 hectares pode alimentar 1.100 pessoas comendo soja, ou 2.500 com milho. Se a produção dessa área for usada para ração bovina ou pasto, a carne produzida alimentaria o equivalente a oito pessoas."

Benefícios para a saúde. Sem fazer dieta, emegreci 3 quilos sem esforço e nunca mais os ganhei. Minhas taxas nunca foram tão boas. Eu, que sempre tive colesterol alto, inclusive durante os 13 anos em que fui atleta, 5 dos quais competindo profissionalmente, seis meses após abandonar a carne tive o menor LDL da minha vida. É claro que isso não se deve só ao fato de não comer carne, mas ao cuidado com a alimentação que acompanhou minha mudança de hábitos. Há muita desinformação em relação à alimentação vegetariana. As pessoas geralmente não sabem sequer a procedência do que comem, mas gostam de falar besteira sobre o assunto.

Vegetariano estrito e vegan
Durante 2 meses eu cortei todos os alimentos de origem animal, completamente. Posso dizer que nunca comi tão bem. Eu até fiz um blog com receitas e estava me divertindo muito. Sinceramente, eu poderia ficar assim se não fosse pelas outras pessoas. Foi muita pressão e infelizmente não consegui manter estas restrições. Posso dizer que como pouco esses alimentos, mas ainda os consumo eventualmente, geralmente quando como fora ou na casa de amigos. Acredito que o objetivo de todo vegetariano é se tornar vegano, excluindo da vida tudo que gera sofrimento animal. Eu ainda não cheguei lá, mas é um objetivo pessoal. Tenho esperança que opções comecem a aparecer no Brasil e que mais empresas conscientes comecem a ganhar terreno.

É uma luta difícil, mas creio que a causa é justa.

Golpe de marketing?
Se o marketing visa criar desejos, ou satisfazer desejos potenciais, ou mesmo ambas as coisas, meu desejo é que o mercado enxerge o vegetarianismo e resolva explorá-lo das melhores formas. Empresas com foco em produtos e serviços para vegetarianos serão a alavanca para muitas pessoas que desejam mudar seus hábitos mas esbarram na falta de opções. Ao mesmo tempo, a existência destas organizações, bem como seus procedimentos diferenciados, começaram a evidenciar os absurdos que se tornaram aceitáveis em favor do melhor preço.

2 comentários:

  1. Eu poderia copiar e sair repetindo o seu depoimento nos 4 primeiros parágrafos... pois foi exatamente igual comigo!
    Até hoje nem sei como deixei de ir aos rodízios, que era programa preferido do final de semana.
    Era louca e apaixonada por carne... e nunca tinha pensado em me tornar vegetariana, mesmo admirando quem era. Até que um dia assisti a uma palestra e foi "o estalo", como vc disse. Desde então olho pra comida com outros olhos e estou imensamente feliz de ter mudado de atitude.

    Não sei explicar bem, mas me sinto uma pessoa melhor sabe. Quase comparada a alguém que se converteu a uma religião! rsrs A sensação é a mesma...

    Estava procurando uma receita de empadão e fui parar lá no teu outro blog, e agora cheguei aqui! Gostei demais!

    Bjus
    @OMundoDeCaliope

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  2. Sim, acho que é a satisfação de viver de acordo com algo em que se acredita :D

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